Há algumas semanas recebi o e-mail de uma querida dizendo assim:
“Esses dias li o post sobre a sessão de cinema pra mamães e bebês. Agora recebi o email abaixo do grupo de teatro Sobrevento e logo pensei em você e achei que poderia gostar.”
Ela se referia ao projeto do Grupo Sobrevento de teatro para bebês. Patrocinado pela Petrobrás. São duas peças, todo sábado e domingo, até o meio de dezembro.
Fiquei louca de curiosidade pra saber como seria, porque a gente vive fazendo passeios com a Luna – casa de avós, bisavós, restaurante, coisa e tal – mas os passeio para a Luna precisam se intensificar de agora em diante; e esta seria uma oportunidade ideal!
E eu havia me decidido a levá-la no final de semana do dia 12/11. É uma pena que, por conta do tamanho do espaço, apenas uma pessoa tem prioridade em acompanhar o bebê. Combinei com o Sil que eu iria e, se fosse bacana, ele iria no final de semana seguinte.
Eram duas possibilidades, em dois horários diferentes: A bailarina, às 10h, e Meu Jardim, ás 11h. Escolhi a primeira peça, pra não coincidir com o almoço da pequena e foi bom porque o Sil iria pra academia e pra aula de bateria. Família toda com a programação cheia pela manhã!
O enredo é bem simples: uma mãe ganha uma caixinha de músicas de sua filha e lá dentro encontra uma bailarina, que gira com a música ao ser dada corda na caixinha. Mas tem muita coisa por trás desta simples história: “O espetáculo tomou como tema o sentido do equilíbrio, entendendo que a busca do equilíbrio físico e emocional poderia não ser uma libertação, mas um aprisionamento, que pode nos levar a abstrair o mundo, fazendo com que nos foquemos demais, com que nos fechemos, que não olhemos ampla e verdadeiramente para aquilo que nos cerca.”
Acordei mais cedo e deixei tudo pronto: malas, comidinhas e bebidinhas. Peguei a pequena do berço – que resolveu dormir até mais tarde neste dia – e fizemos o famoso ritual matinal. Saímos com uma hora de antecedência, pois, mesmo sendo relativamente perto de casa, a Radial Leste é um grande mistério e vai que todo mundo resolve sair no sábado de manhã...
Tranquilo de chegar, rua larga e várias vagas pra estacionar. O hall de entrada do teatro, ou mini-teatro, é bem aconchegante, com uns tapetões parecendo lã de carneiro, com brinquedinhos pra distrair os pequenos antes da peça. E todo mundo vai chegando e se ajeitando, com malas, bolsas, bebê-conforto.
Estamos lá, brincando com patinhos, cavalinhos quando uma menina se aproxima dizendo que é da Veja, perguntando se eu poderia dar uma entrevista. Ela tinha chegado ao teatro fazia um tempo e já havia conversado com outra mãe. Não leio a Veja, ela simplesmente não me agrada com seu conteúdo manipulado. Mas eu concedi a entrevista por dois motivos: sou da área de comunicação e já tive que contar muitas e muitas vezes com a colaboração de estranhos pra me dar uma entrevista – e o pior, em vídeo! – e uma iniciativa como esta precisa ser divulgada, não importa que seja na Veja. Conversamos por alguns minutinhos sobre a Luna, os passeios que fazemos e a rotina dela, bem tranqüilo.
Antes de irmos pra sala do espetáculo, uma integrante do Grupo Sobrevento sentou no meio dos tapetes pra dar as orientações gerais: nada de comidas, apenas mamadeira; bolsas na ante-sala, já que o espaço é pequeno; nada de filmar ou fotografar, porque isso interrompe o momento dos bebês com a peça; e o mais importante: não é interessante direcionar o olhar do bebê dizendo coisas como “Olha lá a caixinha!”, “Olha a luz”, etc., pedem pra deixarmos que nossos filhos guiem seus olhares pro que mais agrada e pro que mais chama a atenção, dizendo que podemos nos surpreender com o potencial poético deles.
O ambiente é realmente pequeno, o que, neste caso, é super positivo, pois o torna mais aconchegante e aproxima o público dos artistas, já que não existe um palco e a peça é feita no mesmo nível da platéia.
Como era a primeira experiência da Luna no teatro e eu não sabia como ela poderia reagir, resolvi ficar no último banco de trás, caso precisasse sair numa “emergência”. Era hora do suco e assim que nos acomodamos, dei mamadeira pra Luna.
Foram pouco menos de 30 minutos de peça, lindos e emocionantes. A atriz brinca com colares coloridos, com a caixinha de músicas e com o corpo; um jogo de luzes marca alguns momentos da história. Luna se comportou bem, ficou atenta á atriz bailarina, seguindo a mulher e o foco de luz que a acompanhava, ficou curiosa pelo objeto que ela manuseava e as coisas que tirava e colocava dentro dele. Mas essa atenção exclusiva durou apenas metade da peça. Em determinado momento ela começou a ficar um pouco inquieta. A grande idéia de ficar atrás funcionou, pequei minha suculenta no colo e ficamos as duas de pé, assistindo a peça, até o final. E passou bem rápido.
Na saída, um fotógrafo, também da Veja, perguntou sobre a possibilidade de tirar uma (ou 45.879) foto pra complementar a matéria feita pela jornalista. Ao me ver assinando o termo de Autorização do Uso de Imagem (que conheço muuuuito bem) de pé, segurando Luna com um braço, sentada numa de minhas pernas dobrada e apoiada na outra perna esticada foi logo dizendo: “Tenho um bebê de 43 dias e acho que preciso trazer minha mulher aqui, pra ela aprender um pouco a como se virar; ainda está muito insegura”. Esses jornalistas sempre sabendo como puxar assunto pra convencer você a “dar” o que querem, rsrsrs.
Viver coisas novas com Luna é sempre – ou quase sempre – uma delícia. Achei que valeu acordarmos cedo, ficarmos longe do Sil por pouco mais de uma hora num sábado de manhã, carregar neném, bolsa, mamadeira e chupeta no colo ao mesmo tempo em que assinava o documento pra Veja. Também tiro o chapéu pra iniciativa do Grupo Sobrevento e para os cuidados que tiveram ao elaborar um projeto com tanto carinho para um público tão peculiar. Acredito também na teoria de que não existe idade para experimentar e absorver a poesia, mesmo sem saber direito do que se trata.
Mas saí do teatro com uma sensação de que esperava um pouco mais, de que a peça seria mais impactante para os bebês. E por isso estava decidia a voltar no final de semana seguinte, agora para assistir Meu Jardim.
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E os deuses permitiram que minha meta não caísse por terra. Na sexta-feira seguinte, à noite, mesmo cansada, deitei a cabeça no travesseiro e coloquei debaixo dele meu objetivo de acordar no outro dia e levar Luna ao teatro novamente.
E assim foi... Ou quase. Tudo pronto, só faltava preparar o suco de melão pra levar e dar pouco antes de começar a peça – tudo pra não mudar muito os horários que Luna segue na escolinha durante a semana. Mas os ponteiros do relógio começaram a girar mais rápido e tive que me apressar. Neste momento Silvio sugere: “Que tal deixar pra ir no final de semana que vem?”. Imagine! – pensei eu – Vamos hoje.
E seguimos felizes, contentes e dormindo – Luna, é claro! – para o Bresser.
Ao entrar na rua do teatro olho pra porta e vejo o seguinte cartaz escrito à mão: “19/11 - Espetáculo cancelado. Desculpem o transtorno.”
Como assim ?!?! Eu não queria acreditar. Saí do carro e deixei Luna lá dentro, dormindinha. Deixei três dedos do vidro aberto, pra que a pituca pudesse respirar enquanto eu atravessasse a rua furiosa e fosse pedir explicações. Como assim cancelaram e não se deram ao trabalho de ligar avisando?!
Ao meu “O que aconteceu?” recebo a seguinte resposta: os atores sofreram um acidente de carro hoje de manhã, quando vinham para o teatro. Murchei na hora. Sem reação e sem ter mais o que dizer, agradeci e voltamos pra casa, esperando que os atores estivessem bem e se recuperassem logo, porque no final de semana seguinte, estaríamos nós lá, novamente!
E ainda fui obrigada ao ouvir um Silvio me dizendo: Eu avisei que era melhor deixar pra semana que vem.
Hunf!
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Mas o final de semana seguinte veio carregado de compromissos e o teatro teve que esperar.
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Durante a semana passada comentei sobre o grupo de teatro com a Fernanda, que trabalha comigo e tem a Maria, de dois anos e pouco. Ela se interessou de verdade, então combinamos de ir juntas no domingo.
A princípio iríamos eu e Luninha, pois Silvio tinha trabalho. Mas de última hora ele resolveu ir conosco, dizendo que trabalharia na ante-sala do teatro, já que, teoricamente, o bebê só poderia ter um acompanhante.
E vocês acham que ele se lembrou de pegar o notebook na hora de sair? Estamos sempre numa correria tão danada que alguma coisa fica pra trás. O foco é sempre nunca esquecer a Luna.
Chegamos meio em cima da hora e pra minha surpresa o lugar estava LOTADO! Quando fomos ver A bailarina estava uma calmaria só, tinha meia dúzia de bebês+mães e chegaram apenas mais alguns depois. Mas dessa vez, não. A fila dos ingressos estava na rua e lá dentro havia um bebê por metro quadrado, e olha que eles não param quietos em seu próprio metro quadrado.
Silvio ficou na fila e eu entrei com a Luna. Avistei lá no fundo a Fe com a Maria e fui apresentar minha princesa a elas. Fernanda disse que Maria havia perguntado inúmeras vezes pela Luna, mesmo sem ainda conhecê-la. E ficamos lá brincando e conversando. Conheci o Quim, marido da Fe e um dos compositores de “Um anjo do céu”, música que coloquei na foto de nove meses da Luna no facebook.
Poucos minutos depois Silvio chega e diz que o teatro estava com lotação máxima e que nós estávamos na fila de espera. Achei bem estranho aquilo, já que eu havia confirmado presença há 15 dias e havia escrito um e-mail no sábado de manhã, só pra reforçar. Já fui imaginando que seria mais uma tentativa frustrada. Que difícil! Mas já que estávamos ali, nada melhor do que curtir a presença das meninas e esperar pra ver no que daria aquilo tudo.
Assim como da primeira vez, uma integrante do grupo Sobrevento se misturou na multidão dos pequenos; e no meio de gugus e dadás tentou passar os recados sobre o espetáculo. E ela nos confortou dizendo que, mesmo com um número excessivo de bebês, pais, mães e acompanhantes no geral, haveria uma tentativa de acomodar a todos da melhor maneira possível no espaço que se destinava ao “palco e platéia”: mães e bebês na frente e demais acompanhantes nos bancos de trás ou mesmo de pé, caso fosse necessário. Acho que a superlotação se deve ao fato do grupo encerrar as apresentações no dia 18 de dezembro, ou seja, serão apenas mais dois finais de semana aqui em São Paulo. Achei bem bacana – e arriscado – essa proposta de acolher todos que estavam ali. Entendo que a questão de limite de público quando se trata de bebês é um cuidado importante, já que eles se distraem e cansam com mais facilidade. Outra orientação importante dessa vez foi mais ou menos essa: “Nesta peça, em alguns momentos, a proposta é de interação com os bebês e em alguns não; gostaria de pedir o bom senso dos pais de avaliarem quais são esses momentos.”
Entramos na fila e Maria logo se adiantou: Quero sentar ao lado da Luna. Fofa! Mas ao adentrarmos o espaço da peça, fomos orientadas pra lugares diferentes. As duas ficaram de frente para os atores e eu e Luna na lateral, mais pertinho do chão. Coloquei minha filha num acento pra bebês - se eu soubesse descrever bem, seria como uma almofada pequena com encosto e divisórias - mas Luna não quis ficar, olhava e se virava pra trás, pedindo colo. Eu estava num banquinho de madeira logo atrás. Sentei com a planta dos pés no chão e joelhos fechados; e coloquei Luna ali em cima. Fiquei bem grudadinha nela, abraçando-a pra não forçar a coluna. Silvio ficou no banco de trás, mas não tão perto de nós.
Eu estava ali com outra expectativa, já havia assistido A bailarina e sabia que Meu Jardim tinha outra proposta: mais atores, mais cores, mais sons. Uma coisa que esqueci de dizer é: assim que o espaço da peça é liberado pras pessoas irem entrando, os atores já começam a encenar. Movimentos leves, constantes e repetidos, pra não comprometerem a história, mas já chamarem a atenção de quem for chegando, aos poucos.
Luna olhava o ator, as pessoas, as luzes, os bebês; e olhava pra mim depois. Assim que o cangaceiro começou a falar, Luna focou, focou nele e em tudo que ele fazia e mexia. Não tirou os olhos das luzes e dos movimentos. Prestava atenção em cada mudança de som. E quando eles cantavam, batia palminhas.
Em determinado momento, o ator principal começou a tirar de dentro de uma grande bolsa colorida alguns animais de tecido – eram, na história, os animais que haviam sido atraídos pelo jardim criado pelo cangaceiro – e segurando os bichos, os aproximava dos bebês que estavam ali pertinho, no chão. Alguns bebês riam, outros estranhavam e a maioria queria pegar os passarinhos, cavalos e onças.
Depois desse momento a coisa “desandou” um pouco; na verdade não sei se fui eu que não senti o tal do momento de deixar os bebês interagir; acho que foi também porque Luna preferiu ficar ali no meu colo, só observando. Depois desse lance com os bichos, alguns bebês começaram a adentrar o espaço da peça, um grande tapete vermelho; começaram a mexer nos bichos, puxando rabos e asas e a quase derrubar uma parte do cenário. Será que era essa a proposta mesmo? Eu e Luna não sentimos isso. Ficou um pouco confuso se esta “invasão” estava sendo tranqüila para os atores ou se a cada frase eles esperavam que as mães dos bebês fossem “discretamente” buscá-los. Eles chegavam a contracenar entre si ao mesmo tempo que pegavam alguns pequenos e os entregavam às mães, sentadas logo ali na frente. Numa das cenas, os dois atores jogavam capoeira; movimentos levem e tudo mais, mas ter bebês ali em volta, na minha opinião, não era o momento mais adequado. Passado um tempo, cheguei a achar que poderia estar podando Luna da socialização e num determinado momento coloquei a pequena no chão e sugeri: “Vai lá, filha!” Eu só não havia reparado que uma das integrantes do grupo de teatro estava sentada quase ao meu lado. E sobre a minha sugestão, ela deu alguma orientação em resposta, mas por conta da música que tocava naquele momento não entendi direito o tom da fala; acabei ficando entre duas opções: “Não sugira nada, se ela quiser, ela irá sozinha”, ou “Não sugira, agora não é o momento”. Peguei Luna no colo e continuamos assistindo à peça.
É um desafio delicado esse de trabalhar com bebês. Não por eles em si, mas por terem que, conseqüentemente lidar com pais - e principalmente mães – que, muitas vezes têm menos limite que os próprios filhos. Atualmente – e cada dia mais – as crianças já são excessivamente cercadas de atenção; mas quando são bebês, isso parece se multiplicar por um milhão. Sei que tem muita mãe por aí que é da filosofia “o filho é meu e ele pode fazer o que quiser”. Posso até estar sendo radical e não sabendo muito me expressar, mas tudo isso veio em mim enquanto vivenciávamos a peça. Novamente, pode ser o tal lance de não ter sentido o momento de deixar Luna solta e ela também não ter me pedido isso; mas não sei mais...
Sei de algumas coisas: que Luna adorou e que quero repetir as doses. E que venham novas peças e novas experiências. Mundos novos se abrindo.
Querida Aline,
ResponderExcluiro seu blog é uma graça! Eu mal consigo escrever eventos importantes da Maria... Vou deixando e quando me lembro de registar em um Word, já não sei mais se ela tinha 2 anos ou 2 anos e 4 meses...
A peça foi mesmo uma delícia, e a sua dica valiosíssima! Quero ver A Bailarina com a Maria. Acho que ela vai se encantar, pois faz aula de ballet com roupinha e sapatilha! Também adorei a nossa foto. Você reparou que a peça continua ali ao fundo?
E a Luna!? Uma linda e sorridente!
Engraçado que, quando a Maria foi até o palco (coitadinha, coincidentemente nas duas vezes em que ela resolveu ir, as luzes se apagaram e ela ficou um pouco perdida, procurando por mim...)eu fiquei pensando se ela parecia um menininho... Eu evito tanto usar rosa e bonequinhas, que acho que estou deixando ela muito unissex!! Só sei que no mesmo dia à tarde, fomos ver àquela outra peça que comentei com você e lá estava Maria de saia rosa e meia calça.
Um beijo, Fê