Não é a primeira vez que o acessório carro foi motivo de reflexões no blog. Mas desta vez uma simples decisão mudou a dinâmica da família e minha “relação” com a Luna, me fazendo, mais uma vez, enfrentar o monstrinho do desapego.
Dirijo desde os 20 anos e sempre gostei de estar ao volante; tá, nem sempre, já que o trânsito de São Paulo entristece qualquer um, ontem, hoje e sempre. Mas desde que minha barriga começou a crescer do meio pro final da gravidez eu passei a evitar o risco desnecessário de ter Luna colada ao volante e, sempre que eu e Silvio saíamos, era ele quem dirigia. Pulo um – do banco do motorista para o banco de passageiro.
E a pequena Branca de Neve nasceu, toda linda e indefesa. E daí que lugar de mãe de recém-nascido é no banco de trás (a não ser quando o pai sinta vontade de babar na filha), ao lado da cria, zelando-a enquanto o pai, a avó ou quem quer que seja fique atento a semáforos de curta duração, motoboys apressadinhos, ônibus folgados e pedestres atravessando a rua sem prestar atenção ao sinal vermelho. Pulo dois – do banco do passageiro para o banco de trás.
E por quase um ano a vida foi essa, a parte da frente do carro era composta por Silvio dirigindo e a bolsa da Luna ao seu lado e a na parte de trás ficava a fofa no bebê conforto - e depois na cadeirinha - e eu, fazendo carinho, cantando, brincando com chocalhos e bonecos, dando mamadeira, ajeitando a cabeça quando ela dormia. Silvio – neste caso representado por um braço, uma mão e uma cabeça virada pra trás - também sempre participou dos momentos de interação familiar dentro do carro e nunca me cobrou de ir pra frente.
Mas até quando manter o desenho do carro daquela maneira? Até quando Luna precisaria realmente estar acompanhada no banco de trás? E se eu fosse pro banco da frente e morresse de saudades alguma coisa acontecesse?
E minha memória me trouxe imagens do meu afilhado indo sozinho no banco de trás ainda pequeninho – hoje ele é um moço de três anos e meio! - e acho que sempre foi tudo bem.
Então, na véspera de natal, decidimos que o terceiro pulo seria dado naquele dia: mamãe agora iria ao lado do papai e Luna iria atrás feito mocinha. Isso...
Isso? Acho que eu estou – sim, é um processo longo este de cortar o cordão umbilical que me liga á ela dentro do carro – indo bem na minha adaptação. Ela fica ali, mais quietinha, sem a mãe pra beijá-la e mexer nela brincar com ela durante as idas até a casa dos avôs no Tatuapé, dos avôs em Perus, na estrada, na ida para a escola. Mas eu viro pra trás de cinco em cinco minutos, nem que seja pra dar uma espiadinha pelo vão do banco da frente, sabe? E de cinco em cinco (também!), quando ela está acordada, continuamos todos cantando, imitando o tigre, a vaquinha e o auau; continuamos fazendo coceguinhas, pedindo pra ela mandar beijo e abraçar forte a boneca. Quando ela dorme, faço contorcionismo pra ajeitá-la e permitir que o soninho do carro continue gostoso e confortável. Pensando bem, no final quase nada mudou, o clima do carro é o mesmo, apenas com um desenho diferente.
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