quarta-feira, 11 de junho de 2014

Clara


Estimulantes da coordenação motora, eficientes para auxílio em tratamentos, aliados contra o estresse e no controle da frequência cardíaca. Ajudam no exercício da autoridade e estimulam a responsabilidade. “Professores” no quesito respeito à preservação da vida e limite à dor. Companheiros leais.

Estas frases viraram um mantra pra mim desde que marido apareceu com uma proposta indecente. Eu pensava na minha filha e voltada a repetir as frases mentalmente, num processo de auto-convencimento de que “aquilo” poderia trazer mais benefícios do que problemas. Quando marido comentou sobre o assunto pela primeira vez, minhas reações foram “De jeito nenhum”, “Nem pense nisso” e “Minha resposta final é Não!”. Ao longo da vida gente se pega eliminando, sem pensar, muitas possibilidades de experimentar e viver fora da caixa. Muitas vezes, precisamos de alguém do nosso lado tão insistente a ponto de enlouquecer qualquer santo pra nos fazer repensar, ponderar e ver tudo de outra forma. E a gente amolece o coração, fecha os olhos e se joga em direção ao novo.

Pra quem não acredita em amor à primeira vista, nosso caso quebra paradigmas. Foram meses de procura em sites, indicações e visitas. Mas quando ela apareceu numa publicação online, coraçãozinho mole do marido teve a certeza: era ela!

Seria ela a comer meu sapato esquecido na sala, virar o lixo da cozinha, rasgar o peso de porta – feito de areia – criando pequenas dunas, aqui e ali e morderia os tapetes da sala e da cozinha. Ela faria com que reorganizássemos a casa toda - e a vida! - pra recebê-la. Ela que deixaria a casa cheia de pêlos e aquele cheiro bem peculiar no ar, que nem os banhos semanais poderiam eliminar por completo. Ela que deixaria Luna confusa e irritada, passando por um processo de entender que algumas coisas fazem parte de seu comportamento e instinto, como lamber, cheirar e “morder” seus brinquedos... E seus pés. Ela que me faria estender roupa na ponta dos pés, pra não pisar no jornal sujo e limpar “você sabe o que” quando marido estivesse doente.

Mas seria ela a abanar o rabo quando abríssemos a porta, latir pedindo atenção, “morder” a mão pedindo carinho, olhar pela janela quando saíssemos, choramingar de saudades e vir correndo com brinquedo na boca, a qualquer hora do dia, da noite, ou da madrugada. Ela seria nossa companheira no sofá e nossa sombra pela casa. Ela que me faria brincar de pega-pega em volta do sofá às onze da noite, depois de um dia longo de trabalho e estudo. Por ela, Luna daria meia volta no corredor do condomínio, só pra se despedir com carinho e abraçar a “filha” com todo amor que poderia dar pra um serzinho tão diferente dela. Ela que faria com que a família toda desse voltas pelo quarteirão num fim de tarde de verão, e faria com que a solidão jamais entrasse naquela casa.

Nossa Clara.
 
 

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