Parecia um show inocente. Ir prestigiar um amigo do trabalho que iria tocar em Pinheiros numa sexta-feira á noite.
O plano era: deixar Luna com meus pais, jantar comida mexicana no El Kabong, atravessar a rua e entrar no pub de rock pra passar a couple of hours, pegar Luna na minha mãe e ir pra casa descansar o que fosse possível, já que Luna acorda lá pelas sete da manhã, cheia de energia.
Tudo correndo como combinado... Até a banda começar a tocar. Ajuda o fato de o show ter começado meia noite e meia, uma hora e meia depois do previsto. E sabe como é. Estava gostosinho, e fomos ficando e ficando. Quando deu o intervalo da banda, não haviam tocado nenhum rockabilly, ou qualquer variação dele. E hoje em dia, uma das minhas maiores frustrações é sair esperando dançar, uma música que seja, e não conseguir nem dar um giro sequer na pista. Mas precisávamos voltar, pegar Luna e dormir, caso contrário, estaríamos um bagaço no sábado.
E daí que, pra ficar mais no show, veio a brilhante idéia do Silvio de deixar Luna dormindo na minha mãe, ir pra casa e encontrá-los no sábado na hora do almoço.
O quê?! Ir pra casa sem minha pequena, dormir sabendo que minha pequena não estaria no quarto ao lado, acordar sem ela em casa?! Nunca! Não!!! Não!! Não! Não? Por que não? Afinal, ela estava na casa da minha mãe, dormindo limpinha, alimentadinha e quentinha e provavelmente não acordaria pra nada de madrugada. Mas e eu? Ficaria órfã de filha?! Pensando bem, Luna é a bebê mais maravilhosa do mundo, não tenho do que reclamar; mas a rotina me faz chegar na sexta-feira só o pó da rabiola e poder dormir até x horas não seria nada mal.
Telefonema dado, sugestão aceita pela avó de Luna. E a noite continuou com um bom rock n’ roll.
Chegamos em casa no meio da madrugada, sem neném pra tirar do carro ou mil bolsas pra carregar; sem neném pra colocar no berço, dar beijo de boa noite e fazer um carinho. Acordamos lá pelas tantas da manhã, sem choro de neném, sem fralda pra trocar ou mamadeira pra dar.
Gostoso? Relaxante? De jeito nenhum! Senti um vazio no peito sem tamanho. A casa parecia sem vida. Que coisa mais esquisita. Só sei que comecei a apressar o Sil pra sairmos logo e ir encontrar Luna na casa da minha mãe. Reencontro com abraços apertados e com afirmações categóricas de que isso demoraria anos para acontecer novamente.
E todos foram felizes para sempre... Até o final de semana seguinte.
Dois convites no mesmo dia: aniversário de uma neta da amiga da minha mãe e jantar japonês com um casal de amigos. Os horários permitiram conciliar as duas coisas, nesta ordem. A idéia era levar Luna no jantar, pois, tirando o fato dela querer colocar na boca tudo que estivéssemos comendo, poderia ser um passeio bem tranqüilo.
E nesta noite dois fatores influenciaram o meu distanciamento de Luna até o dia seguinte: os avós dela insistindo pra que deixássemos Luna com eles até o final da festa e aquele tal cansaço que bate no final da semana, sabem? E mais uma vez aconteceu o tal telefonema: Mãe, posso deixar Luna dormindo aí na sua casa e pegá-la amanhã na hora do almoço?
Estou até vendo, assim que Luna aprender a falar, ela vai pedir pra ligar pra polícia e nos denunciar por abandono de menor.