quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Aprendendo a falar... E a escutar


Tudo começou quando Luna tinha aproximadamente nove meses. Descobriu o ‘au-au’, depois veio o ‘tatai’ e em terceiro um ‘mamã’ (que coisa, não?).

Desde que nasceu Luna já ouviu muito minha voz, muito MESMO! E minha preocupação sempre foi a de falar corretamente com ela. Na grande maioria das vezes eu tento não engolir os ‘s’, falar as palavras por inteiro e fazer uma pausa natural entre uma e outra, pra que ela tenha a possibilidade de ouvir e absorver a informação. Na verdade, estou encontrando a tal ‘pausa natural’ agora, pois meu cuidado na pronúncia estava exagerado a ponto de causar piadas em casa; sofri bulling do marido e do irmão, pois é, pois é, pois é.

Hoje, com exatos dois anos, Luna é nosso ‘papagaio de pirata’. Basta eu pegar o telefone de casa e ligar pra alguém que ela corre e pega o que achar que se parece com um telefone – como o controle remoto da TV, por exemplo – e se posta ao meu lado a repetir a última palavra de cada frase. Sempre que falamos com ela, Luna repete as informações; acho que pode ser a maneira de registrar o que eu disse. Adora exercitar seu português dando ordens, pedindo coisas e relatando situações que acabaram de acontecer.
E A-DO-RA cantar.


E eu estou achando tudo isso delicioso! Não é pelo fato de que criança falando errado é uma delícia (um pouquinho sim, vai!), mas poder me comunicar com ela e vê-la se comunicando com o mundo dessa forma aquece meu coração de mãe.

Mas o mesmo coração fica apertado às vezes. O processo de aprendizado é muito difícil pra eles. Li num site que os pequenos não entendem as palavras e frases como nós, por isso pra eles é mais difícil repetir as sílabas e palavras corretamente. Muitas vezes simplesmente não consigo entender o que Luna está dizendo. Se a palavra ou frase está dentro de um contexto, ajuda. Se ela diz ‘aonete’ enquanto está tomando banho, fica fácil saber o que ela quer; mas se a palavra for dita num contexto muito diferente, fico perdida às vezes.

Desde que sua oralidade começou a se desenvolver já passamos – mesmo agora - por momentos que me deixaram angustiadíssima. Luna falava e não entendíamos, ela repetia e se a gente dissesse algo que não fosse o que ela queria, não ficava satisfeita; queria que repetíssemos exatamente o que ela havia acabado de dizer, talvez pra que tivesse certeza que tínhamos entendido. Entenderam? Se essa situação se alongasse, ficava nervosa e começava a chorar. E eu me sentia péssima por não conseguir me comunicar com a minha filha; a sensação era de estar privando-a de um direito básico.

Cada dia a situação vem melhorando. Seu vocabulário está aumentando e as palavras estão sendo ditas mais claramente. Acho que seu desenvolvimento tem muito a ver com seu esforço em querer aprender, mas tem também a ver com o nosso esforço em querer ensinar, porque muitas vezes não é fácil, muitas vezes estamos ocupados com alguma coisa e parar pra prestar atenção no que uma criança quer dizer exige concentração e entrega. Muitas vezes, depois da segunda tentativa frustrada, dá vontade de dizer “Vá brincar na sala, depois você me conta”; e confesso que já devo ter feito isso uma vez ou outra. Mas fazer isso com frequência quando seu filho quer se comunicar verbalmente com você, não dá! Em casa tentamos nos acalmar – ela e nós - olhamos em seus olhinhos e pedimos que repita, deixando bem claro que estamos prestando toda atenção do mundo, fazendo realmente força pra entendê-la, deixá-la segura sobre sua própria comunicação e tirar aquela sensação de aperto do peito por ter conseguido ouvi-la.

Todo dia me pego dividia: em alguns momentos não vejo a hora dessa fase passar, de entender “tudo” que ela diz e poder dar o feedback necessário, sem frustrações de ambas as partes; mas por outro lado, curto cada palavra sua, pensando que logo, logo ela estará falando “tudo certinho” e que eu ficarei com saudades da minha pequena e seu jeito aprendiz de se comunicar.