Tudo começou quando Luna tinha
aproximadamente nove meses. Descobriu o ‘au-au’, depois veio o ‘tatai’ e em terceiro
um ‘mamã’ (que coisa, não?).
Desde que nasceu Luna já ouviu muito
minha voz, muito MESMO! E minha preocupação sempre foi a de falar corretamente
com ela. Na grande maioria das vezes eu tento não engolir os ‘s’, falar as
palavras por inteiro e fazer uma pausa natural entre uma e outra, pra que ela
tenha a possibilidade de ouvir e absorver a informação. Na verdade, estou encontrando
a tal ‘pausa natural’ agora, pois meu cuidado na pronúncia estava exagerado a
ponto de causar piadas em casa; sofri bulling do marido e do irmão, pois é,
pois é, pois é.
Hoje, com exatos dois anos, Luna é nosso
‘papagaio de pirata’. Basta eu pegar o telefone de casa e ligar pra alguém que
ela corre e pega o que achar que se parece com um telefone – como o controle
remoto da TV, por exemplo – e se posta ao meu lado a repetir a última palavra
de cada frase. Sempre que falamos com ela, Luna repete as informações; acho que
pode ser a maneira de registrar o que eu disse. Adora exercitar seu português
dando ordens, pedindo coisas e relatando situações que acabaram de acontecer.
E A-DO-RA cantar.
E A-DO-RA cantar.
E eu estou achando tudo isso delicioso! Não é pelo fato de que criança falando errado é uma delícia
Mas o mesmo coração fica apertado às
vezes. O processo de aprendizado é muito difícil pra eles. Li num site que os
pequenos não entendem as palavras e frases como nós, por isso pra eles é mais
difícil repetir as sílabas e palavras corretamente. Muitas vezes simplesmente
não consigo entender o que Luna está dizendo. Se a palavra ou frase está dentro
de um contexto, ajuda. Se ela diz ‘aonete’ enquanto está tomando banho, fica
fácil saber o que ela quer; mas se a palavra for dita num contexto muito diferente,
fico perdida às vezes.
Desde que sua oralidade começou a se
desenvolver já passamos – mesmo agora - por momentos que me deixaram
angustiadíssima. Luna falava e não entendíamos, ela repetia e se a gente
dissesse algo que não fosse o que ela queria, não ficava satisfeita; queria que
repetíssemos exatamente o que ela havia acabado de dizer, talvez pra que
tivesse certeza que tínhamos entendido. Entenderam? Se essa situação se
alongasse, ficava nervosa e começava a chorar. E eu me sentia péssima por não
conseguir me comunicar com a minha filha; a sensação era de estar privando-a de
um direito básico.
Cada dia a situação vem melhorando. Seu
vocabulário está aumentando e as palavras estão sendo ditas mais claramente. Acho
que seu desenvolvimento tem muito a ver com seu esforço em querer aprender, mas
tem também a ver com o nosso esforço em querer ensinar, porque muitas vezes não
é fácil, muitas vezes estamos ocupados com alguma coisa e parar pra prestar
atenção no que uma criança quer dizer exige concentração e entrega. Muitas
vezes, depois da segunda tentativa frustrada, dá vontade de dizer “Vá brincar
na sala, depois você me conta”; e confesso que já devo ter feito isso uma vez
ou outra. Mas fazer isso com frequência quando seu filho quer se comunicar
verbalmente com você, não dá! Em casa tentamos nos acalmar – ela e nós - olhamos
em seus olhinhos e pedimos que repita, deixando bem claro que estamos prestando
toda atenção do mundo, fazendo realmente força pra entendê-la, deixá-la segura
sobre sua própria comunicação e tirar aquela sensação de aperto do peito por
ter conseguido ouvi-la.
Todo dia me pego dividia: em alguns
momentos não vejo a hora dessa fase passar, de entender “tudo” que ela diz e poder
dar o feedback necessário, sem frustrações de ambas as partes; mas por outro
lado, curto cada palavra sua, pensando que logo, logo ela estará falando “tudo
certinho” e que eu ficarei com saudades da minha pequena e seu jeito aprendiz
de se comunicar.