No filme ‘Awake – A vida por um fio’, a mãe do
protagonista abre mão da própria vida para doar o coração para o filho que está
morrendo em uma sala de cirurgia. E
fiquei pensando que, se nós estivéssemos vivendo aquilo, eu não pensaria duas
vezes antes de tomar a mesma decisão da personagem de Lena Olin, porque não
faria o menor sentido continuar vivendo sem minha filha.
O assunto aqui é sobre doação, porém, mais leve do
que o do filme acima. A minha doação é diária e começou desde o momento que
descobri a gravidez: mudei a alimentação, a rotina, a relação com o corpo, com
a saúde, com o trabalho; a casa nova foi planejada já sabendo que, muito em
breve, teria a presença diária de um bebê ali. Desde que nasceu, muitas das
escolhas foram feitas pensando exclusivamente nela; algumas mais fáceis, outras
nem tanto.
Vamos falar sobre os cabelos...
Luna tem um corte de cabelo que é um charme, e vive
recebendo elogios: um channel bem curtinho e repicado; e a ideia é manter mais
ou menos este corte por um bom tempo. Luna transpira muito no calor e se
tivesse um cabelo mais longo, eu teria que deixá-lo sempre preso. Liberdade já!
Até porque, ela só tem dois anos e meio e, em minha opinião, um serzinho de
aproximadamente 90 centímetros não combina com madeixas longas.
Ontem de manhã Luna pegou um elástico de cabelo e
pediu que eu prendesse ‘igual ao da Larissa’. Como de costume, fiz um penteado “chafariz
de baleia” – nome criado por nossa vizinha de quatro anos – no alto da cabeça.
Luna tirou o elástico dizendo “Assim não, mamãe, aqui atrás”. Ui! Ouvi o
barulho dos pedaços do meu coração caindo no chão de madeira do quarto. Depois
de recolhê-los mentalmente, perguntei se a Larissa era alguma amiga da escola,
já imaginando que ela teria cabelos compridos. Luna respondeu que sim. Tentei
fazer um rabicó, mas ao colocar a mão e perceber a escassez de cabelo que
estava preso, Luna não ficou satisfeita e desmanchou o rabo de cavalo
coelho, repetindo o mantra “Assim não, mamãe. Assim não”. Como eu sabia que não
conseguiria atender suas vontades, sugeri que ela segurasse o elástico até a
escola e lá pedisse que a auxiliar cabeleireira das meninas prendesse
seu cabelo. E assim foi.
Mas no caminho para o trabalho fiquei pensando
sobre o assunto. Todas as pessoas próximas à Luna (tirando as avós) tinham cabelo
comprido: eu, a madrinha, a prima, a mãe da prima, a namorada do padrinho, as
amigas da escola, a professora, as auxiliares. Uns maiores do que outros, mas
todos possíveis de serem presos num rabo de cavalo. E achei “injusto” com ela.
Bem, seu cabelo ficaria curto de qualquer jeito e eu não tinha como opinar no
cabelo alheio; mas poderia fazer algo com o meu.
E fiz. Cheguei ao trabalho e pedi sugestões de
lugares pra cortar. Minha chefe corta com um cara que fica na rua ao lado do
trabalho. Liguei e marquei horário para o final do expediente. Eu estava muito
feliz por radicalizar pelos motivos em si, mas tamanha mudança em algo
fundamental para uma mulher, literalmente de uma hora pra outra, não estava
sendo fácil. Passei a tarde em um misto de ansiedade e animação.
Mas pensava sempre na Luna, pois, mesmo que ela
não entendesse claramente o motivo da mudança, EU sabia que poderia ser o
exemplo caso ela se/me questionasse a respeito do seu visual. Então acabei chegando
ao salão tão decidida do que queria, que passei quase uma hora praticamente
implorando pro cabeleireiro pesar a mão.
E o resultado foi esse:
Créditos: Diego Cortes (padrinho da Luna) |