Também
pertenciam ao conjunto original: um tamanco preto, um grande colar
dourado, um avental sobreposto a saia e botões fechando o colete. Mas o fato destas peças terem se
perdido ao longo destes 26 anos não teve tanta importância no resultado
final.
O "desapego" à lembranças materiais que cresce ano a ano - um tanto quanto necessário, visto a quantidade de experiências que consumimos diariamente - teve uma sobrevivente na nossa família. Ela teve um cantinho guardado nos armários, resistindo a cada faxina, a cada limpeza. Como nunca esteve comigo, eu não saberia dizer o que motivou minha mãe (e posteriormente minha tia) a guardarem com tanto cuidado a saia, a blusa, o colete e o lenço, trazidos de Portugal pelo meu avô há mais de duas décadas.
Ao descobrir que estas roupas ainda existiam quando Luna nasceu, contei os dias para repetir o "ensaio fotográfico" lusitano. E finalmente conseguimos! E a cada peça vestida voltava a lembrança do meu velho, com aquele sotaque delicioso, com as piadas escrachadas e a dentadura solta. Tenho certeza que Seu José soltou um riso divertido - de onde quer que esteja - ao ver a bisneta usando as roupas que ele mesmo escolheu, numa das viagens à sua terra natal.
Que os registros aumentem a cada nova geração. No nosso guarda-roupas, o conjunto já tem lugar reservado.