quarta-feira, 10 de abril de 2013

Woody, Buzz e o Coelho da Páscoa: contribuindo juntos para a doação da chupeta


Segundo este vídeo, o brinquedo Senhor Cabeça de Batata foi lançado na década de 60, mas não da forma que o conhecemos hoje: eram peças soltas na caixa e a sugestão da empresa é que o boneco fosse montado em um legume qualquer. O resultado era encantador, só que na versão assustadora. Permite exercitar mais a criatividade, coisa e tal, mas confesso que a composição ‘peças mal feitas’ + ‘legumes disformes’ ficava bem estranha. Como nasci “um pouco” depois disso, já tive contato com o brinquedo desmontável todo feito de plástico. Segundo minhas lembranças, era bem divertido arrancar os olhos criar personagens diferentes a cada brincadeira.

Como sabíamos que, mesmo depois de muitos anos, a tal raiz não comestível continuava a ser vendida, resolvemos dar uma para Luna de natal. Silvio encontrou na Internet a maleta completa da versão masculina, com várias opções de cada parte do corpo. Coincidência ou não, minha tia deu de presente a esposa do distinto Senhor.

E num belo dia no começo deste ano, provavelmente num sábado chuvoso ou algo do tipo, resolvi fazer uma associação que influenciaria cada dia de nossas vidas até hoje. Enquanto brincávamos com as batatas de plásticos, lembrei que tínhamos os DVDs do Toy Story, onde o Senhor Cabeça Desmontável faz parte do grupo principal de personagens da história.

Fiquei tão animadinha! E fui logo chamando Luna pra assistir comigo a animação da Pixar. E pra resumir a história, o que aconteceu foi que Luna gostou tanto (tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto, tanto) que, desde aquele dia ela pede pra ver Woody, Buzz, Jessie e Cia TODOS OS DIAS! Não falha um! O que ameniza a coisa toda é que a história é dividida em três partes, portanto conseguimos variar as tramas. Depois de uns dias, Silvio, que não aguentava mais olhar pra televisão e ver “as mesmas imagens”, começou a estimular que outros desenhos fossem assistidos nos momentos de descanso da pequena. Mesma assim, o cowboy continuava a ser preferência absoluta em casa. Já decorei falas e movimentos das personagens e, de vez em quando, eu aproveito o momento pra tirar um cochilo enquanto “assisto” ao desenho com a pequena.

Durante este tempo, e mesmo antes, vínhamos percebendo que a dentição da Luna estava se projetando pra frente por conta do uso da chupeta e sei que este pequeno objeto pode ter influência em relação às infecções de ouvido; como Luna tem a adenoide aumentada, as infecções naturalmente tendem a ser mais frequentes do que numa criança sem esta questão.
Há meses ela usava o bico só pra dormir, mas como às vezes acabava passando a noite toda com o bendito na boca, no final de fevereiro comecei a pensar na possibilidade de tirar de vez o objeto de nossas vidas. Sim, NOSSAS vidas, pois quem chupa é a pequena, mas somos eu e Silvio que temos que guardar, pegar, lavar, levar...

E vi na Páscoa a ocasião perfeita pra mandar a chupeta embora. Como muitas mães já fizeram, também achei mais cômodo fazer chantagem tranquilo usar uma ocasião especial e conseguir uma troca amigável entre chupeta e um presente. A próxima data comemorativa seria apenas em outubro, então resolvemos que o momento seria agora! E tudo se encaixou perfeitamente: controlo bem a quantidade de doces que Luna consome, então eu já não daria ovo de páscoa (até porque sei que ela ganharia de Deus e o mundo!) e como ela tinha se tornado fã de carteirinha do cowboy e do patrulheiro espacial, combinamos que o coelhinho traria de presente seus personagens preferidos e como agradecimento, daríamos a chupeta em troca. E esse combinado foi relembrado com frequência desde então. Cada vez que Luna pedia a chupeta, a gente conversava sobre como ela estava crescendo e como ficava bonita com a boca sem nada pra atrapalhar seu sorriso.

Um pouco antes do dia tão esperado, minha mãe lembrou que, ao tirar a chupeta nesta época, faríamos Luna passar por duas “perdas” ao mesmo tempo, já que ela está na fase do desfralde. Fez todo o sentido, mas ao conversar com Sil, ele me lembrou há quanto tempo estávamos sustentando essa história do coelho levar a chupeta e não fazia mesmo o menor sentido voltar atrás agora.

Na noite de sábado, tivemos uma última conversa. Num primeiro momento, Luna colocou a chupeta na cesta que montamos para o coelho, ao lado da cenoura. Na hora de dormir, porém, ela pediu a chupeta e nós damos mesmo assim, relembrando que seria a última vez.

Minutos depois, tiramos a dita cuja de sua boca e já aproveitei para guardar todas as chupetas da casa no armário. A noite foi um pouco agitada e Luna acordou resmungando algumas vezes. Em tempos remotos eu andaria feito zumbi até seu quarto, procuraria a chupeta e devolveria para sua dona se deleitar e voltar a dormir. Mas dessa vez o sonífero foi na base da conversa e do carinho. Um sono desesperador, meu, é claro!

A noite seguinte foi um pouco pior, a cria acordou mais vezes e acabei ficando mais tempo com os olhos abertos do que gostaria, acalmando-a. Vim trabalhar na segunda-feira exausta. Mas depois disso as coisas ficaram mais tranquilas, Luna passou a dormir a noite toda e nas poucas vezes que pediu pela chupeta, saiu uma voz meio falhada, como se, na metade da palavra, ela mesmo recordasse do que tinha acontecido com o objeto, antes tão estimado. Assim que olhamos com cara de espanto e lembramos a manhã de domingo, Luna esquece daquilo como se não tivesse nem tocado no assunto. Vez ou outra ela insiste um pouco mais na questão.

É um alívio não precisar mais se preocupar com a danada da chupeta, simplesmente esquecemos que ela um dia existiu em casa. Como disse uma amiga do trabalho, a chupeta serve pra acalmar os pequenos em momentos de estresse, mas é basicamente um instrumento cômodo e facilitador das NOSSAS vidas e não da vida dos filhos.  

Quatro dias depois da despedida, assistimos ao DVD do espetáculo de final de ano da escola. Luna estreava nos palcos sem ter completado dois anos. Por motivos que desconheço (cansaço, sono, enfim), ela entrou pra dançar de chupeta. Ao se ver no vídeo, com a boca coberta pelo plástico colorido, Luna não hesitou: “Chupeta feia!”

Sucesso!