terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Minha pequena mordedora

Era uma vez uma princesinha linda, doce, meiga e carinhosa; mas um dia ela começou a morder os amiguinhos, mamãe, papai e vovó. E todos foram felizes para sempre. Fim.


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Quem me dera eu estivesse lidando com isso desse jeito fácil e tranqüilo. Sei que ter um bebê mordedorzinho não é o fim do mundo, mas né? Quem curte?



E foi de repente, começaram me avisando na escolinha - no dia do aniversário dela – dizendo que elas pegaram Luna no pulo mais de uma vez, indo morder o bracinho de uma bebezica menorzinha do que ela. Eu tomei um susto e fiquei arrasada, porque em casa ela não era assim. É fato que Luna já tem personalidade própria e, mesmo estando no coletivo da escola todos os dias desde os quatro meses, é igual a qualquer bebê: quer aquele brinquedo – que está com o amiguinho na maioria das vezes - naquela hora e pronto.



E como se o fato de agora eu saber que ela mordia na escola tivesse alguma influência maior, comecei a reparar que Luna, ás vezes quando eu não dava o que estava na minha mão ou tirava o que estava na mão dela, também passou a demonstrar com os dentinhos que estava insatisfeita e irritada.



Na primeira vez fui pega de surpresa e cheguei a sentir uma leve pressão na minha mão antes de puxar o braço pra longe do rosto da pequena carnívora. Mas agora, quando sei que ela vem pra morder, me adianto, e já falo bem séria “Não pode! Faz dodói! Mamãe fica triste!”; nem sempre tudo isto ou nem sempre nesta ordem.



Acho cedo ela já começar a morder e confesso que não acreditei que fosse passar por isso. Acontece que é uma fase mesmo, não tem muito que se fazer a não ser a antiga fórmula: paciência e consistência, com aquela boa pitada de amor.

Mudanças em movimento

Não é a primeira vez que o acessório carro foi motivo de reflexões no blog. Mas desta vez uma simples decisão mudou a dinâmica da família e minha “relação” com a Luna, me fazendo, mais uma vez, enfrentar o monstrinho do desapego.



Dirijo desde os 20 anos e sempre gostei de estar ao volante; tá, nem sempre, já que o trânsito de São Paulo entristece qualquer um, ontem, hoje e sempre. Mas desde que minha barriga começou a crescer do meio pro final da gravidez eu passei a evitar o risco desnecessário de ter Luna colada ao volante e, sempre que eu e Silvio saíamos, era ele quem dirigia. Pulo um – do banco do motorista para o banco de passageiro.


E a pequena Branca de Neve nasceu, toda linda e indefesa. E daí que lugar de mãe de recém-nascido é no banco de trás (a não ser quando o pai sinta vontade de babar na filha), ao lado da cria, zelando-a enquanto o pai, a avó ou quem quer que seja fique atento a semáforos de curta duração, motoboys apressadinhos, ônibus folgados e pedestres atravessando a rua sem prestar atenção ao sinal vermelho. Pulo dois – do banco do passageiro para o banco de trás.


E por quase um ano a vida foi essa, a parte da frente do carro era composta por Silvio dirigindo e a bolsa da Luna ao seu lado e a na parte de trás ficava a fofa no bebê conforto - e depois na cadeirinha - e eu, fazendo carinho, cantando, brincando com chocalhos e bonecos, dando mamadeira, ajeitando a cabeça quando ela dormia. Silvio – neste caso representado por um braço, uma mão e uma cabeça virada pra trás - também sempre participou dos momentos de interação familiar dentro do carro e nunca me cobrou de ir pra frente.



Mas até quando manter o desenho do carro daquela maneira? Até quando Luna precisaria realmente estar acompanhada no banco de trás? E se eu fosse pro banco da frente e morresse de saudades alguma coisa acontecesse?


E minha memória me trouxe imagens do meu afilhado indo sozinho no banco de trás ainda pequeninho – hoje ele é um moço de três anos e meio! - e acho que sempre foi tudo bem.


Então, na véspera de natal, decidimos que o terceiro pulo seria dado naquele dia: mamãe agora iria ao lado do papai e Luna iria atrás feito mocinha. Isso...


Isso? Acho que eu estou – sim, é um processo longo este de cortar o cordão umbilical que me liga á ela dentro do carro – indo bem na minha adaptação. Ela fica ali, mais quietinha, sem a mãe pra beijá-la e mexer nela brincar com ela durante as idas até a casa dos avôs no Tatuapé, dos avôs em Perus, na estrada, na ida para a escola. Mas eu viro pra trás de cinco em cinco minutos, nem que seja pra dar uma espiadinha pelo vão do banco da frente, sabe? E de cinco em cinco (também!), quando ela está acordada, continuamos todos cantando, imitando o tigre, a vaquinha e o auau; continuamos fazendo coceguinhas, pedindo pra ela mandar beijo e abraçar forte a boneca. Quando ela dorme, faço contorcionismo pra ajeitá-la e permitir que o soninho do carro continue gostoso e confortável. Pensando bem, no final quase nada mudou, o clima do carro é o mesmo, apenas com um desenho diferente.