segunda-feira, 29 de julho de 2013

Uma viagem e seus múltiplos encontros

   “Filha, nossa primeira viagem de férias foi maravilhosa; você não deu um pingo de trabalho. Lembro que você detestava usar a parte de cima do biquíni, dizia que machucava o pescoço. Deixamos assim, à vontade, já que você ficava só com a parte de baixo quando íamos para o sítio do seu avô. Não foi possível viajar antes, pois estávamos construindo a nossa casa, então o foco financeiro era este. Na época você comia super mal, mas adorava o queijo coalho vendido na praia, aquecido na hora, em latas velhas com um fogaréu improvisado. No último dia da viagem havia acabado o dinheiro, não tínhamos nem pra comer: aproveitamos o café da manhã do hotel e passamos o resto do dia à base de lanches.”
Foi mais ou menos com estas palavras que, olhando as poucas fotos impressas num álbum colorido, meus pais se recordaram da primeira grande viagem de férias que fizemos em família, 24 anos atrás, ainda sem a presença do meu irmão. Aquela seria a primeira de muitas e a paixão deles pelo litoral e suas paisagens nos levariam de volta ao Nordeste mais algumas vezes. Eles sempre preservaram muito a instituição familiar e, mesmo isto sendo demonstrado de diversas formas no cotidiano, acho que essas viagens era a forma de celebrarmos o amor de estarmos juntos. 
Fica fácil concluir que não tenho sequer uma lembrança ruim das viagens, mas a minha memória não é muito confiável. Devo ter me estapeado algumas vezes com meu irmão ou fazer cara feia por não aguentar mais andar de um lugar para o outro. Isto aparece impresso. A obsessão da minha mãe pelo registro fotográfico deve ter nascido com ela e lembro que muitas das fotos durante toda a infância as viagens tirei a contragosto: eu detestava ficar parada no meio da areia olhando pra câmera, me sentia uma turista panaca. Por isso que hoje eu tento ao máximo tirar fotos “naturais” da Luna, mas confesso que “Filha, olha pra mim” já foi dito incontáveis vezes deste que a cria nasceu. Cuspi pra cima e caiu na testa, nos olhos, no nariz e na boca. 
A última vez que planejamos uma viagem dessas foi pra Natal, em 1998. Lembro que foi intenso pra mim, intensidade de menina de treze anos. Fizemos amizade com uma família e os filhos deles eram um casal de gêmeos três anos mais velhos do que eu. O menino era lindo, mas namorava e, por mais que fosse atencioso, me via como criança, porque na época eu não queria deixar de ser criança, mas outros sentimentos ainda desconhecidos começavam a aparecer. Tive que engolir aquela paixonite não correspondida de verão. Também foi intenso, porque meus pais têm o lema de ‘aproveitar o máximo que puder’, então fizemos passeios todos os dias. Depois disso, meus velhos resolveram construir uma casa no interior e a renda extra do mês novamente tinha um foco bem específico.  
Quinze anos depois, meu retorno à parte de cima do Brasil teve como destino justamente Natal. Ter a possibilidade de revisitar lugares tão lindos agora como mãe seria especial, simplesmente pela simbologia do tempo, por saber que estarei passando no mesmo lugar que passei há 15 anos com meus pais e meu irmão. Tenho aquela nostalgia boba de estar num lugar e praticamente sentir as pessoas do passado ali comigo, mesmo que uma dessas pessoas seja eu. Pra mim tem a ver com amadurecimento, com toda vida que passou por mim entre os dois momentos. 
A viagem aconteceu meio por acaso. No começo do ano ficamos sabendo que parentes portugueses do Silvio viriam visitar o Brasil e um dos destinos seria o Nordeste. Na época eu jamais imaginei que fosse ultrapassar os limites de São Paulo tão cedo, por questões econômicas mesmo, visto que ainda não havíamos terminado de quitar a dívida da casa. Mas além dos parentes da terrinha, meus dois cunhados confirmaram a viagem, e Silvio, há seis anos sem tirar férias, viu ali a oportunidade de uma experiência em família. Algumas coisas na vida podem não ter segunda chance e, depois de pesquisar preços e avaliar a situação financeira, resolvemos encarar o desafio.  
Luna tem uma prima um pouco mais velha do que ela. O encontro semanal é garantido e durante todo o dia as duas não se desgrudam. Quando meu cunhado disse que não levaria a filha na viagem, por questões que não cabem aqui, Silvio cogitou a possibilidade de também deixar Luna com os avós. Mas a ideia bateu e voltou, na mesma hora! Luna adora a praia e eu jamais tiraria dela uma experiência dessas: aprendizagem baseada na convivência, na descoberta das novidades e no prazer. Não existiam argumentos que justificassem privá-la de passar uma semana conosco. Silvio entendeu que, mesmo ela exigindo uma série de cuidados relativos à sua idade, a primogênita já possuía independência para realizar muitas das tarefas cotidianas.   
Decisão tomada, logo em seguida o turbilhão de coisas do dia-a-dia ocuparam totalmente minha atenção e a viagem foi deixada de lado por um bom tempo. Mas conforme a data da partida se aproximava, fui ficando ansiosa a ponto de sentir frio na barriga quando lembrava que, em breve, iríamos fugir da rotina com uma intensidade sem precedentes, que iríamos sair da "zona de conforto" sem ter ideia do que nos esperava, porque nada do que havíamos feito até então se comparava com o que estávamos prestes a experimentar. E é claro que meus maiores receios tinham a ver com a Luna: a viagem de avião, o tempo longe de casa, a alimentação, o convívio intenso com as mesmas pessoas durante uma semana, a programação dos dias de passeio... Eu estava radiante de revisitar um lugar do qual tinha ótimas lembranças, mas a razão pela qual eu topei encarar o desafio era proporcionar à Luna a melhor experiência de férias que fosse possível. Se ela não estivesse aproveitando, nada valeria a pena. 
A fase em que a pequena está nos poupou muito espaço, já que só usa fralda noturna e come de tudo. Mas pra não correr o risco de esquecer nada de importante, fiz pesquisas e listas de tudo que precisaria levar. E mãe de primeira viagem fazendo a mala da primeira viagem da filha merece um desconto. Recebi uma leve vistoria por parte do marido que me obrigou a tirar uma coisa ali e outra aqui. Mesmo assim o processo foi bacana, pois tudo que ia sendo separado era mostrado à pequena viajante e, na medida do possível, Luna ajudava a escolher o que levaríamos.  
Acredito que não tem tanto a ver com a idade avançada, mas a minha fase de Diário de Bordo já passou, e por mais que a vontade seja de deixar registrado cada minuto daquela semana, o que me é realmente caro são as experiências que vivemos e a maneira que elas me afetaram como pessoa e nos afetaram como família.  
A viagem foi maravilhosa. Testemunhar Luna descobrindo o próprio corpo aprendendo a se movimentar na água e criando “independência” em relação a isso foi sensacional. Permitir que as férias fossem completas e deixá-la tomar um sorvete sozinha de sobremesa foi relaxante pra mim, mãe neurótica com alimentação. Viver novas experiências com pessoas que amo tanto foi marcante. 
A viagem foi maravilhosa, sem dúvidas. Mas o tal do ‘descanso’ de férias não rolou. Talvez isso acontecesse antes, quando a minha visão sobre a vida e sobre as relações eram outras, quando as preocupações das férias eram escolher o biquíni do dia, a roupa do jantar ou sorrir nas fotos pra deixar minha mãe feliz com seus registros da viagem. Desta vez eu acordava pensando no que Luna ia comer no café da manhã, no que precisava levar na bolsa quando saíssemos para conhecer uma praia distante, se eu tinha passado protetor suficiente, se naquela refeição a massinha daria conta de entretê-la à mesa, se ela comeria bem, em qual parte do passeio seu sono falaria mais alto do que poderíamos distraí-lo e ela pudesse ter uma crise de birra. Tirando os momentos que um ou outro brincava com a pequena, eu passava a maior parte do dia sem tirar os olhos dela; e isso é um colírio delicioso, mas cansa, muito! 
Por mais longe que se esteja de casa, por mais que tenha se distanciado da rotina, ninguém deixa de ser si mesmo. Nós três estávamos de férias, num lugar diferente, mas continuávamos com nossos defeitos, qualidades e com as características de cada idade (no caso da Luna). Na maior parte da viagem a mocinha foi incrível, aguentou a programação intensa, os deslocamentos, os momentos de espera, as nossas escolhas, o dormir tarde, o acordar cedo, o comer o que escolhíamos. 
Mas em alguns momentos, seu desejo por independência alternado ou misturado com a vontade de nos testar desencadearam atitudes que nos deixaram à flor da pele. Essas atitudes variavam da insistência por colo em momentos que não poderíamos pegá-la e a vontade de andar sozinha em momentos onde carregá-la era necessário. Transitavam entre querer comer sozinha, se vestir sozinha, arrumar as coisas sozinha, quando precisávamos agilizar o processo, e querer comida na boca, quando eu gostaria que comesse sozinha por estar morrendo de fome e querer comer também. A viagem foi maravilhosa, nos aproximou e em momento algum colocou à prova o que sinto pelos meus amores, mas testou limites entre mãe e filha, pai e filha e marido e mulher. Meus limites chegaram a ser ultrapassados e lidei com alguns deles de uma maneira que não acredito ser saudável e me arrependo terrivelmente. Foram dias que me fizeram perceber que o amor precisa estar sempre acima de tudo, mas que ainda precisamos nos alinhar como família. 
      Que muitas outras viagens aconteçam; talvez em outros formatos, com outros preparativos, combinados e expectativas. E que nos tragam mais fotos, descobertas e amadurecimentos.
      Ah! Antes que eu me esqueça... O famoso texto do Pedro Bial que diz “Se eu pudesse dar só uma dica sobre o futuro seria esta: usem o filtro solar!” faz todo sentido. Mas se eu pudesse dar uma dica sobre o presente seria esta: nunca, em hipótese alguma, se esqueçam de levar massinha de modelar em passeios com filhos pequenos. Elas fazem milagres à mesa!

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Esta é a verdadeira descoberta...

Não importa a cama, o travesseiro... 
 

 A temperatura, a posição...

A hora, o dia...


A roupa, o sono.


 
Luna sempre (SEMPRE!) se descobre minutos depois de ser colocada na cama.

Já tentamos cobri-la com edredom de casal, prender as pontas embaixo do colchão, deitá-la numa das metades da coberta e cobri-la com a outra metade e até mesmo jogar o edredom por cima das grades da cama, de modo que o tecido nem encoste nela. Nada adiantou. Já tentamos conversar com ela inúmeras vezes, mas ela não se cobre nem quando está dormindo conosco; nesses casos a coberta vira contorcionista: fica pra cima nas pontas e pra baixo no meio.

Na hora de vesti-la pra dormir, partimos do princípio que a roupa do seu corpo será sua única proteção contra o frio durante toda a madrugada. E pra ajudar, a criatura pegou a mania de tirar as meias dormindo. Se fossem só as meias, estava de bom tamanho. Na semana passada fui até seu quarto assim que acordei e, ao olhar pra cama, vejo uma criança de meias, blusa e... Fralda. Luna tirou as calças enquanto dormia. Estava toda encolhida num canto, com as pernas geladas, mas descoberta e sem calça!

A solução foi apelar: compramos meias 3/4 (“De jogar futebol, igual do papai!”) e macacão, matando a saudade de quando a cria era pequena e esta peça era carro-chefe no armário. Pode vir com tudo inverno! Estamos descobertos, mas preparados!