quarta-feira, 11 de junho de 2014

Frio na barriga



Frio na barriga naquele 1º de janeiro, quando te vi pela primeira vez, sem saber que você, era você e, pouco tempo depois, seria VOCÊ. Estava dançando e me veio aquece frio, aquela excitação, por te ver fazendo algo que era tão familiar pra mim. Vi você, sem ver seu rosto. E eu não sabia que um dia conheceria este rosto tão bem, tão de perto.

Frio na barriga quando me tirou pra dançar pela primeira vez. Foi naquela noite que nos olhamos. Trocamos duas ou três palavras: “Quer dançar?”. “Claro”. As seguintes foram silenciosas, corporais, gestos das mãos, cabeças, olhares. E eu não sabia que pegaria em suas mãos tantas e tantas vezes e trocaríamos tantas outras palavras silenciosas.

Frio na barriga naquele dia de sol, no parque, cada vez que você me jogava pra cima e me girava no ar. A primeira aula de aéreos. Experiência completamente nova. Professor e aluna. Eu tive confiança em seus movimentos desde o primeiro segundo, desde o primeiro passo no ar. E eu não sabia que me sentiria tão segura com você, em tantos outros momentos da vida.

Frio na barriga naquele primeiro encontro, meio permitido, meio proibido. Sala de cinema, filme bom, conversa boa e o frio na barriga. O primeiro beijo. E eu não sabia que nos beijaríamos tantas outras vezes e que os sentimentos envolvidos neles poderiam ser tão diferentes.

Parada na calçada, esperando o semáforo abrir, quando ouvi aquele pedido de namoro que não poderia ter acontecido de outro jeito vindo de você: “Fala pra ela que sou seu namorado, oras!”. Foi um período difícil, cheio de frios e arrepios. E eu não sabia que, de um jeito ou de outro, seríamos namorados até hoje.

O mais friorento de todos aconteceu no corredor de um shopping. Duas listras vermelhas completamente inesperadas me deixaram congelada, da cabeça aos pés. Fisicamente, a barriga estava quente, uma vida crescia ali dentro, mas emocionalmente eu não conseguia sentir o calor. Você, desde o primeiro segundo, começou a derreter a barreira que havia se formado em mim. E eu não sabia que aquela borboletinha criaria uma ligação tão forte entre nós, para sempre.

Vieram tantos outros frios na barriga, tantas escolhas a serem feitas em tão pouco tempo. Foram meses de vida virando de cabeça pra baixo, enquanto Luna, lá dentro, dava suas voltinhas também, acompanhando nosso ritmo intenso: médicos, laboratórios, exames, lojas de construção, lojas de bebê, lojas de móveis, visitas a tantos e tantos imóveis, até acharmos aquele que chamaríamos de casa. E eu não poderia imaginar a intensidade de momentos que viveríamos ali, debaixo daquele teto.

E aquela borboletinha nasceu. Todo processo me deu frio na barriga, na espinha, nos pés e nas mãos, mas você esteve sempre ao meu lado.  Desde então, tudo mudou. E eu passei a sentir incontáveis temperaturas corporais diferentes, físicas e emocionais. E elas me fizeram ser o que sou hoje. Nossos primeiros dias em casa; o primeiro banho que dei na pequena, depois de muita insistência sua em tirar aquele medo que eu sentia de machucá-la; sua primeira viagem a trabalho, quando Luna tinha apenas um mês de vida; a minha volta ao trabalho e a ida da Luna para a escola; a despedida da minha avó querida; a chegada da Clara; a escolha e os desafios de começar a pós-graduação; nossos passeios em família; nossos passeios a sós.

Os frios na barriga são diários. Quando saio para trabalhar e tenho que me despedir de vocês; cada vez que toca meu telefone e vejo seu nome nele; quando chego em casa; quando brigamos; quando fazemos as pazes; a cada nova decisão a ser tomada.

Coração acelerado quando li aquela frase na almofada vermelha: ‘Frio na Barriga’. Lembrei-me de todos os frios na barriga que senti desde que te conheci. Sei que muitos outros ainda virão, e que estaremos juntos transformando o frio, em calor.



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